A Religião e as Personagens

 

No livro, cada uma das personagens amigas dos Capitâes de Areia apresenta uma caracteristica religiosa

Entre elas estão o Padre José Pedro e a mãe-de-santo Don’Aninha que representam respectivamente o catolicismo e o candomblé.
José Pedro era um padre humilde, na verdade era o mais humilde entre todos os padres da Bahia. Sonhava em um dia conquistar o coração dos Capitães da Areia e ajudá-los a melhorar a situação em que viviam.
Ele foi um dos poucos aceitos entre os meninos, pois era diferente do resto da cidade devido ao seu sincero sentimento cristão. Representa uma religião voltada para os pobres, os humildes, longe do luxo dos cultos e das devoções beatas.

Don’Aninha era mãe de santo que, para cada um, tinha uma palavra amiga e maternal. Curava doenças e juntava amantes.

Era amiga dos capitães da Areia há muito tempo, porque são amigos da grande mãe-de-santo todos os negros e todos os pobres da Bahia.

Assim, no livro, pode-se entender que negros e necessariamente pobres seguiam o candomblé como religião e uma discriminação e repreensão é evidente por parte da sociedade. Isto pode ser observado quando, no capítulo AVENTURA DE OGUM, a polícia apreende uma imagem de Ogum, um santo do Candomblé e quando Don’Aninha fala que “- Não deixam os pobres viver... Não deixam nem o deus dos pobres em paz. Pobre não pode dançar, não pode cantar pra seu deus, não pode pedir uma graça a seu deus”, p. 97.

 

Pirulito certamente foi o mais influenciado pelo padre José Pedro, que descobriu no menino uma forte vocação religiosa embora pertencesse aos capitães da areia e ganhasse a vida com roubos.

Possuía dois quadros: um de Santo Antônio com o Menino e outro de Nossa Senhora das Sete Dores que tinha sete setas cravadas no peito.

 

Quando Pirulito rezava parecia que ele ia para outro mundo. Um mundo totalmente diferente do seu, onde não existiam fome nem medo, desafeto nem dor. Seu rosto e sua voz também eram diferentes e isto, Sem-Pernas logo percebia quando o encontrava rezando.

Porém, quando este momento acabasse tudo voltaria a ser como era antes. A dura realidade de viver nas ruas voltaria para aqueles meninos e a felicidade sumiria. Por este motivo, Sem-Pernas nunca tinha parado para rezar. Não tinha fé que somente a simples fuga por alguns momentos pudesse bastar. O que ele realmente precisava era de algo que pudesse o livrar de toda sua angústia imediatamente.

No capítulo DEUS SORRI COMO UM NEGRINHO, Pirulito viu uma imagem da Virgem da Conceição com o Menino em uma loja de artigos religiosos e logo se identificou com ela. O Menino era magro, podre, tinha frio e fome; precisava de cuidados assim como Pirulito.

Então, roubou o Menino para dar a ele aquilo que Pirulito precisava: o carinho que nunca tivera. Certamente isto seria um pecado, porém a necessidade de tê-lo em seus braços era maior e pensou que o dono da loja não sentiria falta de um só Menino que ninguém, além de Pirulito, se interessava.

 

Capitaes da Areia pode ser considerado a epopéia dos misseraveis, em que denuncia as mazelas sociais como, a exploração do trabalho reificador, o preconceito de classes a descriminação cultural e a fome, contem um sentido moral que castiga as elites da sociedade e é portadora de uma mensagem política.